O Voadeira Estradeira nasceu um blog sobre viagens (período incrível!). Depois se tornou um breve diário pré-casório e compartilhamentos sobre a maternidade. Agora ele se transformou em meu principal projeto: criação, produção e estudo de literatura. Muito bem-vindos!

quarta-feira, 17 de julho de 2019

A arte de viajar não viajando

É maravilhoso viajar, nossa, e como! E como as pessoas viajam! Blogs, redes sociais, sites, programas de tv... e quando você está na estrada então... é só olhar ao redor para perceber que hoje há pessoas em trânsito o tempo todo. Há viajantes em toda parte do globo, uma parcela considerável da população com a mala nas costas,  seja lá por qual motivo for. Mas, e quando você não faz parte dessa turminha? O que fazer? Como lidar?
Como viajar não viajando?
Como ajustar sua lente para a vida de todo dia e arrumar um jeito de olhar o cotidiano como algo novo?
Creio que tudo é realmente uma questão de olhar. Ajuste seu olhar e encare seu lugar atual como um lugar interessante. Olhe para as pequenas dádivas diárias realmente como dádivas diárias.  Enfim, tudo é mesmo ponto de vista, perspectiva. Para mim o céu de Angola ainda é o mais bonito, o Chile ainda é minha segunda casa, o Nepal cheira fumaça e me traz uma nostalgia, um aconchego exótico e a certeza de que poderia ser feliz lá, mesmo em  meio ao caos urbano, mas hoje, estou na cidade em que nasci, no corre corre de muitas mulheres com filhos pequenos. Vacinas, tratamento para alergia, planos não realizados e férias escolares... Mas o pôr do sol daqui ainda assim é lindo! Olhe da sua janela... vale a pena! Uma taça de vinho no final da noite ainda é uma taça de vinho... e vale a pena! Ainda não conheci um país ou cidade que não tenha algo de beleza e que pareça com a beleza que vemos quando estamos fora. Na verdade nosso olhar estrangeiro capta muito melhor as belezas de perto. Amo viajar, mas atualmente treino meu olhar para o que está ao meu redor. E sabe, no fim, isso é um bom exercício, o de viajar não viajando. Minha casa é o lugar de todo dia para mim, que estou aqui. E preciso fazer esse lugar valer a pena. Um lugar distante é o lugar conhecido de alguém que está longe de mim agora. A partir de uma nova perspectiva consigo, sim, viajar não viajando. Pontos de vista. Não,  isso não é um texto anti viagens. Que elas venham às dúzias... Mas que meu olhar se renove a cada manhã, aonde quer que eu esteja. A milhas de distância ou ali, ali mesmo,  na próxima esquina.
Boa viagem!

domingo, 7 de julho de 2019

Pausas e respiros

Celebrar as férias não quer dizer que o trabalho é ruim. De maneira nenhuma! Mas as férias nos fazem parar, mudar o ritmo, olhar para trás, celebrar o tempo de trabalho concluído e respirar. Uma vez, ainda estudante de jornalismo, fiz uma viagem pelo nordeste para acompanhar um projeto de alfabetização de jovens e adultos da universidade. Em nossas andanças por pequenas cidades de Alagoas, encontramos uma comunidade católica de monges contemplativos. No auge dos 20 anos, achei aquilo surreal. "Pra quê serve um monge contemplativo?", pensava....
Então,  e pra quê correr de um lado para o outro? Pra onde? Por quê?
As perguntas mudam, mas a vida segue seu curso. E hoje, adulta, quarentona, mãe de dois filhos, trabalhando, cheia de projetos para concretizar, vejo a pausa como parte importante de qualquer processo. Parar, respirar, olhar para trás, olhar para frente, parar de novo, respirar outra vez e, por que não,  como aqueles monges de Alagoas, também contemplar o que já foi e o que está acontecendo exatamente agora.
Quer tentar?
Vamos juntos:
Observe o seu agora respirando fundo.

Agora, agorinha mesmo, faz frio, muito. Minha filha dorme no bercinho, meu filho na  cama, meu marido vê um jogo na sala e eu escrevo esse texto embaixo de um edredon quente e macio. Ouço barulho de carros na avenida próxima. É domingo. A máquina de lavar faz o serviço dela na área de serviço e eu aqui, respirando, sou só o agora. O presente precioso que sempre nos escapa pelos vãos dos dedos está realmente presente por alguns instantes. Contemplo sua presença com um misto de contentamento e gratidão.  Não há tarefas por fazer. Não há relógios ditando meus passos.  Posso passar a tarde com uma amiga, andar de bike com  meu filho e ver um filme que está na lista sem fim de filmes não vistos. Pausas e respiros nos inspiram a seguir em frente. Pausas nos ajudam a olhar ao redor, exatamente agora e observar o quanto temos e não vemos. E isso leva à gratidão.
Será que isso é contemplação?
Quase 20 anos depois da viagem por Alagoas entendo um pouquinho mais o poder da contemplação -  e isso graças às férias.  Será que virei contemplativa também?
E você?
Conseguiu?
Sigamos, entre pausas e respiros, na trilha que nos cabe completar. Talvez exatamente entre as pausas tudo que for 'vaidade e correr atrás do vento' fique definitivamente para trás e só o que realmente importa siga conosco pra frente.
;)