Terminei de ler
Água Funda, de Ruth Guimarães agora em janeiro.
Conheci D. Ruth em 2001, enquanto trabalhava no TCC sobre o Rio Paraíba do Sul, para a finalização do curso de Jornalismo. Sabia de sua importância na literatura, lia suas crônicas, suas pesquisas folclóricas. Ela foi personagem do livro-reportagem, se tornou uma amiga, conselheira literária, editei um livro dela, adaptei para o teatro um conto popular que ela escreveu, um dia ela se hospedou em minha casa para fazer uma palestra em São José. Fui visitá-la quando estava bem doente em Cachoeira Paulista. Tínhamos outro projeto juntas: editar uma seleção de suas crônicas que ela escreveu para o então jornal Valeparaibano (era para eu fazer a selação, ordem dela!), não deu tempo, não consegui a verba para a publicação. Em maio de 2014 ela faleceu (menos de um mês antes para seu aniversário). Quando ligava para ela, antes do tchau ela dizia: Te amo Karina!
Eu dizia: Eu também!
Mas, apesar de tanto tempo de convivência só fui ler seu romance Água Funda esse ano. E, meu Deus! Seu romance de estreia, teve a primeira edição em 1946, e a colocou na elite literária brasileira pela crítica, como Antonio Cândido, que escreveu o prefácio para uma das publicações.
Sua narrativa foi comparada à de Guimarães Rosa e seu romance ao Macunaíma, de Mário de Andrade....
A vida simples nos cafundós do sul de Minas que esbarra com as paragens valeparaibanas ganha poética, profundidade, incrível força narrativa. Como não sofrer com o triste fim de Carolina e com a sina de Joca... acompanhar a vida rural em sua essência, por dentro, sem estereótipos, sem um tom 'pitoresco', narrativa que cativa, prende, faz sofrer, encanta. Demorei tanto tempo para lê-lo, obra de gigante! Gostaria de poder falar com ela sobre seu romance e expressar meu maravilhamento, saber como foi seu processo criativo (quando ainda era uma menina!), enfim, abrir a cortina entre autor e obra, fazer conexões... ou talvez olhar pra ela e sorrir, ou tremer em mostrar a ela qualquer um dos meus textos, ou então só admirar seu jeito tranquilo enquanto caminhava pelo quintal de sua casa, cheio de plantas e histórias.
Quem me emprestou o livro foi a Rita Elisa, simplesmente a primeira edição, autografada e tudo!
Segue um trecho:
"A gente passa nesta vida, como canoa em água funda. Passa. A água bole um pouco. E depois não fica mais nada. E quando alguém mexe com varejão no lodo e turva a correnteza, isso também não tem importância. Água vem, água vai, fica tudo no mesmo outra vez".
Não fica no mesmo não Dona Ruth! De jeito nenhum!
Muito obrigada! :)